House of Huawei: The Secret History of China’s Most Powerful Company
por Eva Dou
Portfolio, 2025
Em fevereiro deste ano, gigantes do setor de tecnologia da China se encontraram em Pequim para em uma reunião de alto nível promovida pelo presidente Xi Jinping. A reunião era um gesto performático do governo, um ato de demonstração de apoio à inovação do setor privado. Entre os convidados, figuravam estrelas das principais empresas nacionais de tecnologia, como os fundadores da DeepSeek, BYD, Tencent e Alibaba. Ainda antes do início da conversa, qualquer observador presente na sala sabia que a primeira coisa a ser registrada era o esquema de assentos: a posição de cada convidado simbolizava seu grau de relevância para os interesses do mais alto escalão político do país. Não houve muita surpresa em relação à figura que ocupava o lugar de maior destaque: de frente para o presidente Xi, no lado oposto do centro da mesa, estava Ren Zhengfei, fundador e CEO da Huawei.

A Huawei é uma das empresas mais poderosas da China. Nasceu como uma pequena fornecedora de hardware para centrais telefônicas na cidade de Shenzhen, em 1987. De lá para cá, transformou-se em em uma gigante global, faturando mais de US$100 bilhões anuais com a venda de uma enorme gama de produtos, desde infraestrutura 5G e equipamentos para videoconferências até smartphones e smart watches. É uma empresa-chave na Rota da Seda Digital, iniciativa voltada à instalação de infraestrutura digital com tecnologia chinesa ao redor do mundo. Nessa missão, uma de suas subsidiárias já conecta três continentes com cabos submarinos, e, agora, a própria Huawei passou a fornecer os chips semicondutores e sistemas digitais que impulsionam o boom de inteligência artificial e veículos elétricos na China.

A trajetória de ascensão da Huawei é narrada por Eva Dou, repórter de tecnologia do Washington Post, no livro “House of Huawei”, publicado em janeiro deste ano pela editora Portfolio (ainda sem tradução para o português). Numerosas fontes amparam a história narrada por Dou, de entrevistas com ex-executivos e documentos corporativos internos a escritos pessoais de Ren Zhengfei. Apesar de a Huawei ser famosa por uma cultura de sigilo que limita o acesso a diversos documentos oficiais, a autora conseguiu produzir um relato fidedigno e ricamente detalhado sobre uma empresa que não apenas é um símbolo da transformação da China em potência tecnológica, mas também—por esse mesmo motivo—um relevante ponto de tensão nas relações do país com os Estados Unidos.
A formação de um exército de telecomunicações
A escalada da Huawei vem no contexto de esforços mais amplos do governo chinês para contornar suas vulnerabilidades tecnológicas e reduzir sua dependência de potências estrangeiras. Sucessivas iniciativas de política industrial—do Programa 863 de Ciência e Tecnologia dos anos 1980 ao “Made in China 2025”—buscaram tornar a China autossuficiente nas chamadas tecnologias centrais (核心技术), pilares críticos não apenas para o desenvolvimento econômico do país, mas também para a segurança nacional.
Nos anos 1980, os equipamentos de telecomunicação eram a tecnologia central. Quando a economia chinesa começou a decolar, a dependência do país de equipamentos de telecomunicação estrangeiros já era vista por seus líderes políticos como uma ameaça importante à soberania tecnológica. Naquele momento, a China era completamente dependente de equipamentos importados de empresas como Ericsson, Nokia e Siemens. Além do alto custo em reservas estrangeiras, isso significava que o país abria mão do controle de uma parcela fundamental de sua infraestrutura moderna. A declaração do fundador da Huawei, Ren Zhengfei, ao então presdiente Jiang Zemin é paradigmática: “Um país que não tem seus próprios sistemas automáticos de comutação é um país sem exército”.1Eva Dou, (<)em(>)House of Huawei: The Secret History of China’s Most Powerful Company(<)/em(>) (New York: Portfolio, 2025), 66.
Com o objetivo de adquirir tecnologia estrangeira e desenvolver uma indústria nacional de telecomunicações, a China usou o potencial de seu vasto e crescente mercado doméstico em esforços ativos para atrair produtores estrangeiros e incentivá-los a formar joint ventures com empresas chinesas. A troca de acesso ao mercado por tecnologia estrangeira (市场换技术)começou no setor automotivo e, ao longo das décadas seguintes, se tornou uma estratégia de política industrial amplamente difundida. Em 1984, foi criada a Shanghai Bell, primeira joint venture do setor de telecomunicações da China, resultado de uma parceria com a Bell Telephone Manufacturing Company, uma subsidiária belga da empresa original de Alexander Graham Bell. Outras joint ventures com empresas estrangeiras não demoraram a surgir e, já na década de 1990, a China substitiuiu a maioria dos equipamentos de telecomunicações importados por produtos produzidos em solo nacional.2Qing Mu and Keun Lee, “Knowledge Diffusion, Market Segmentation and Technological Catch-up: The Case of the Telecommunication Industry in China,” (<)em(>)Research Policy(<)/em(>), 34 (2005): 759–783.

A Shanghai Bell, apesar de não ser tão conhecida atualmente, teve um papel fundamental no desenvolvimento das telecomunicações na China, não apenas por internalizar tecnologias centrais, mas, talvez de forma ainda mais importante, por treinar uma geração crítica de cientistas e engenheiros chineses. A tecnologia da Shanghai Bell foi cuidadosamente estudada por um consórcio de centros de pesquisa chineses, incluindo o instituto de engenharia do Exército de Libertação Popular, e os aprendizados foram colocados em prática para desenvolver os primeiros comutadores digitais inteiramente projetados na China. Paralelamente, para comercializar esses novos produtos, a estatal Great Dragon foi criada. E foi a Great Dragon, não a Huawei, a primeira empresa chinesa consagrada como campeã nacional no setor de telecomunicações.
Mas, para a sorte do setor de telecomunicações chinês, Pequim não colocou todos os ovos em uma só cesta. A Great Dragon era uma das quatro maiores fabricantes de equipamentos do país, junto com a Huawei, a ZTE e a Datang. Na medida em que a China rapidamente instalava uma nova estrutura de telecomunicações, as quatro empresas se beneficiaram da ampla disseminação de tecnologia promovida pela Shanghai Bell e correram para garantir suas fatias do mercado nacional. Nesse meio tempo, a Great Dragon acabou sofrendo um colapso existencial: seus comutadores apresentaram problemas de software que, basicamente, a tiraram da disputa.
Se Pequim tivesse simplesmente concedido à Great Dragon o monopólio sobre os equipamentos de telecomunicação chineses, o projeto nacional teria sido um desastre. Mas a China criou, intencionalmente, espaço para o surgimento de fortes competidores, de modo que o setor em geral pudesse continuar a progredir.3Eric Harwit, “Building China’s Telecommunications Network: Industrial Policy and the Role of Chinese State-Owned, Foreign and Private Domestic Enterprises,” (<)em(>)The China Quarterly(<)/em(>), 190 (2007): 311–332 Com o tempo, essa estratégia de “competição administrada” seria replicada em uma série de setores da indústria nacional, desde o automotivo ao de trens de alta velocidade. Em vez de simplesmente criar um monopólio estatal ou deixar a regulação nas mãos do mercado, a China buscou trabalhar com o melhor dos dois mundos: impulsionou atores-chave de cada indústria e incentivou que competissem entre si.
O surgimento de uma campeã nacional
Como Dou deixa claro, a ascensão da Huawei como campeã nacional chinesa se deve, em grande parte, à cultura agressiva e militarista disseminada na empresa por seu fundador, Ren Zhengfei. Filho de agricultores, Ren nasceu em 1944 na remota província de Ghizou. Em 1963, concluiu sua formação superior no Instituto de Engenharia Civil e Arquitetura de Chongqing. Em 1974, apesar de nunca ter se filiado à Liga da Juventude Comunista quando estudante, foi recrutado pelo Exército de Libertação Nacional para trabalhar na Equipe de Engenharia, que enfrentava uma escassez de especialistas. A rápida ascensão na hierarquia do Exército não fez com que deixasse de se identificar como um outsider. Nesse contexto, em 1987, juntou-se a um grupo de amigos e criou a primeira versão da Huawei: uma revendedora terceirizada de dispositivos de telecomunicações em Shenzhen. Inicialmente copiando produtos de outras empresas, Ren fomentou ativamente a escalada da Huawei na cadeia de valor. Como resultado, no início da década de 1990, a Huawei já projetava os próprios produtos.
Na medida em que a empresa decolava, Ren criou um ambiente interno de competição feroz entre suas equipes de vendas, popularmente conhecido como “cultura do lobo” (“wolf culture”). A empreitada incluia a realização de eventos de “demissão em massa”, nos quais cada gerente de vendas era obrigado a apresentar um relatório de resultados e uma carta de demissão. No final, Ren escolhia um dos dois documentos—uma abordagem que Elon Musk provavelmente admiraria. Além disso, Ren investiu pesadamente em pesquisa e desenvolvimento, oferecendo salários generosos e a oportunidade de trabalhar com tecnologia de ponta para atrair os melhores cientistas e engenheiros do país. A longa jornada de trabalho dos engenheiros da empresa—que chegavam a levar colchões para dormir no escritório—era famosa. Finalmente, Ren fez do nacionalismo uma força motivadora fundamental para a empresa, recorrendo, ao longo de sua estratégia de negócios, a líderes nacionais como Jiang Zemin, Hu Jintao e, agora, Xi Jinping.

A Huawei também se beneficiou da cooperação internacional, estabelecendo mais de vinte centros de pesquisa e desenvolvimento nos EUA e na Europa e patrocinando parcerias de pesquisa em diversas universidades ao redor do mundo.4Peter Pawlicki, “Challenger Multinationals in Telecommunications: Huawei and ZTE” in Jan Drahokouil (ed.) (<)em(>)Chinese Investment in Europe: Corporate Strategies and Labour Relations(<)/em(>), European Trade Union Institute (2017): 36. Aliou-se, ainda, com grandes empresas estrangeiras, como Nortel, Nokia e Motorola—apesar de ter sido frequentemente acusada de roubo de propriedade intelectual pela concorrência. Em um caso emblemático, a Cisco alegou que o software da Huawei tinha os mesmos bugs de seu código-fonte e que partes dos manuais técnicos da empresa americana haviam sido integralmente copiadas. Durante o processo judicial, desesperado por soluções alternativas, Ren chegou a cogitar vender a Huawei para a Motorola.
Vistos em conjunto, os fatores que levaram ao sucesso da Huawei—ambição incansável, parcerias globais estratégicas e táticas gerenciais controversas—são muito semelhantes às condições que levaram à ascensão tecnológica e industrial da China no mesmo período. A expansão global da Huawei refletiu—e, de fato, encabeçou—a evolução da China na arena mundial. Inicialmente, a empresa fincou presença em países vistos com desconfiança pelo Ocidente, como Iraque e Irã. Em seguida, expandiu gradualmente suas operações para outros países, derrotando os competidores ocidentais, com o apoio de Pequim, em termos de custo de produção. O Banco de Desenvolvimento Chinês criou uma linha de crédito de US$10 bilhões especialmente dedicada a financiar os equipamentos da Huawei no exterior e líderes chineses como Hu Jintao chegaram a comparecer pessoalmente a algumas cerimônias de assinatura de contratos da empresa com líderes estrangeiros.

A decisão do Reino Unido de instalar equipamentos de telecomunicação da Huawei em seu território, em 2005, foi um divisor de águas na ascensão internacional da empresa. Isso “abriu a porteira para o Ocidente” e, conforme o relato de Dou, permitiu que a Huawei atingisse “não apenas países individuais, mas continentes inteiros”.5(<)em(>)House of Huawei(<)/em(>), 160. Em 2015, a Huawei era responsável pelo fornecimento de metade dos equipamentos 4G da Europa. Em 2020, já tinha se tornado a fabricante dos smartphones mais vendidos no mundo. Era evidente que Huawei e, com ela, a própria China, tinham finalmente conquistado a confiança e o respeito internacionais que almejavam há tempos.
Por outro lado, havia razões para uma crescente desconfiança. Suspeitas estadunidenses rondavam a Huawei desde os anos 2000, quando os EUA questionaram publicamente se os projetos de infraestrutura da empresa no Iraque violavam as sanções impostas pela ONU.6(<)em(>)House of Huawei(<)/em(>), 141. Em 2011, o clima de desconfiança foi reforçado pela venda ao Irã de sistemas que permitiram à polícia rastrear a localização de telefones celulares. Em 2012, executivos da Huawei e da ZTE foram interrogados pelo Comitê de Inteligência do Congresso americano. Em 2017, um relatório revelou que, há anos, dados da sede da União Africana—construída pelos chineses e equipada pela Huawei—era enviados para a China. Em 2018, a Austrália foi o primeiro país a expressamente banir a Huawei e a ZTE de construir infraestrutura de 5G em seu território. Relatórios de 2020 e 2021 também expuseram a atuação da Huawei no desenvolvimento de sofisticados sistemas de vigilância instalados inicialmente em Xinjiang e, posteriormente, em outras partes da China.
Durante uma audiência pública no parlamento britânico, o chefe de cibersegurança da Huawei admitiu que os equipamentos de telecomunicação da empresa realmente rastreavam dados de localização de telefones celulares, acrescentando que isso acontecia pelo simples fato de que é assim que a tecnologia moderna de celulares funciona: “Os equipamentos da Huawei não são diferentes dos equipamentos dos outros”, argumentou.7(<)em(>)House of Huawei(<)/em(>), 208. A grande ironia é que a Agência de Segurança Nacional dos EUA (NSA) já tinha, ela própria, hackeado os servidores da Huawei em Shenzhen e tentado utilizar equipamentos da empresa para espionar outros países—informação revelada pelos vazamentos de Edward Snowden.
A Huawei sob ataque
Em 15 de maio de 2019, a Huawei recebeu a notícia mais temida pelas gigantes de tecnologia chinesas: tinha sido inserida na infame Entity List do Departamento de Comércio americano. O ingresso na lista de entidades restritas, ocorrido no primeiro mandato de Trump, foi um duro golpe: bloqueou o acesso da empresa aos chips e softwares americanos que alimentavam seus smartphones, inclusive ao sistema operacional Android, do Google. Reagindo a isso, Ren Zhengfei decidiu vender a Honor, popular unidade de produção de smartphones da Huawei. A venda se deu em 2020 por US$15 bilhões, mas, já no ano seguinte, a receita da Huawei caiu 27%.
A isso seguiram-se sucessivas sanções que acabaram obstruindo o acesso da Huawei também à Taiwan Semiconductor Manufacturing Company (TSMC), líder mundial na fabricação de chips. O negócio de smartphones da empresa entrou em queda livre e sua própria sobrevivência foi colocada em questão. Em meio a tudo isso, Meng Wanzhou, CFO da Huawei e filha de Ren Zhengfei, estava em prisão domiciliar no Canadá porque os EUA a acusavam de supostamente ser responsável por violações a sanções impostas ao Irã. A prisão já dividia a opinião pública canadense, mas a controvérsia foi seriamente aprofundada quando Trump sugeriu que Meng não era mais do que uma moeda de troca para a negociação de um acordo comercial dos EUA com a China.
Pressionado por todos os lados, Ren Zhengfei colocou a Huawei em modo de guerra. A empresa já havia gastado bilhões de dólares estocando chips semicondutores suficientes para dois anos de operação. A HiSilicon, divisão de projetos de chips da empresa, já vinha trabalhando há anos no desenvolvimento de “estepes” caso a Huawei perdesse acesso aos chips estrangeiros.8(<)em(>)House of Huawei(<)/em(>), 301. Atualmente, a formidável capacidade de P&D da empresa está inteiramente voltada ao desenvolvimento de seus próprios chips e sistemas operacionais. O que até então era um plano B virou, da noite para o dia, a prioridade máxima da Huawei. Para motivar a equipe, Ren circulou internamente a imagem de um avião soviético de bombardeio utilizado na Segunda Guerra que, mesmo gravemente danificado, continuava a voar.9(<)em(>)House of Huawei(<)/em(>), 301.

A guerra tecnológica entre EUA e China
Inserir a Huawei na Entity List não foi apenas um ataque à empresa de Ren, mas uma declaração de guerra tecnológica contra a China. Iniciada por Trump, essa guerra foi intensificada por Biden por meio de sanções dirigidas ao coração da economia chinesa: os chips semicondutores. Os EUA cortaram o acesso da China não somente aos chips semicondutores avançados—entre eles, as versões mais poderosas das GPUs da Nvidia—mas também às próprias ferramentas que o país precisaria para produzir chips de ponta internamente, como as máquinas de litografia de última geração da holandesa ASML. A luta para restringir o acesso da China aos semicondutores assumiu dimensões existenciais na política americana. Em novembro de 2022, logo antes do lançamento do ChatGPT, o Conselheiro de Segurança Nacional Jake Sullivan atestou em discurso público que o país precisava “manter a maior vantagem possível” no setor.
Após décadas lutando para alcançar os concorrentes, a indústria de semicondutores da China foi abalada por uma onda de sanções e pela ameaça constante de que o pior ainda estaria por vir. Em resposta, o governo encarregou a Huawei de liderar um “projeto Manhattan” para tornar autossuficiente toda a cadeia chinesa de fornecimento de semicondutores. Para isso, a companhia tem mobilizado forças-tarefa especiais compostas de engenheiros e gestores para ajudar uma miríade de empresas ao longo de toda essa cadeia de valor a resolver problemas produtivos em sentido amplo. Além disso, a a Huawei tem investido maciçamente em dois enormes centros de P&D em Shangai e Shenzen, que operam dia e noite para desenvolver equipamentos para a fabricação de chips capazes de substituir as máquinas de litografia de última geração da ASML. Fortalecer seus processos internos como forma de mitigar o impacto das sanções se tornou o imperativo existencial da Huawei—e, também, da própria China.
Huawei, a Hidra
Menos de cinco anos depois das sanções de Trump, a Huawei surpreendeu o mundo com um novo produto. Em agosto de 2023, a empresa lançou o Mate 60 Pro, smartphone 5G que utilizava chips processadores avançados, desafiando os esforços estadunidenses de contenção da indústria de chips da China. Em seguida, em dezembro de 2024, lançou o HarmonyOS Next, uma versão do sistema operacional de seus smartphones integralmente produzida na China. Atualmente, os chips da Huawei são amplamente utilizados por empresas chinesas de IA, servindo como alternativa às GPUs da Nvidia, sujeitas ao controle de exportações. Os resultados levaram Ren Zhengfei a anunciar ao presidente Xi que as preocupações do país a respeito da “falta de essência e alma” da China (缺芯少魂)—expressão que se referia à ausência de produção doméstica de semicondutores e sistemas operacionais—já não precisavam ser tão grandes.

Os avanços inesperados da Huawei, aliados às incríveis inovações da DeepSeek em IA, colocaram em questão o efeito dos bloqueios impostos à China: pode ser que o tiro tenha saído pela culatra. É bastante possível que obrigar a China a se tornar autossuficiente na produção de materiais de ponta tenha acelerado, ao invés de atrasar, o desenvolvimento do país. E, pelo andar da carruagem, não é impossível que os EUA acabem ficando para trás. Questões como essas não são analisadas por Dou, mas a detalhada e complexa pesquisa que embasou o livro House of Huawei não deixa dúvidas sobre a relevância da empresa no cenário global—para muito além do atual contexto das relações entre China e EUA.
Em um discurso recente sobre as sanções dos EUA, o Ministro das Relações Exteriores chinês Wang Yi declarou: “Onde há bloqueio, há avanços; onde há repressão, há inovação”. Uma variável crucial foi ignorada pelos EUA no cálculo político e econômico que embasou os bloqueios à Huawei: o exército de engenheiros e cientistas de alto calibre que compõe os quadros da empresa. Com Trump de volta à Casa Branca e o acirramento das tensões entre os países, a China precisará, mais do que nunca, da Huawei: a campeã das campeãs nacionais.
Tradução: Lucia Del Picchia
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